quinta-feira, 5 de agosto de 2010

meu lugar, pra sempre


Era uma tarde qualquer de outono, muito comum..
eu estava sentada na praça da cidadezinha da minha vó,
e estava detestando cada minuto que passava lá, pois
havia sido forçada por minha mãe a ir junto passar o fim de semana
com nossa família reunida, e família reunida significava primos chatos, bebês chorando o tempo todo,
tias me perguntando quando eu iria casar e meu pai bêbado junto com meus tios e meu avô.
O fim de semana perfeito, rá, eu iria me matar.
A praça era bem simples, alguns brinquedos e algumas crianças espalhadas por eles.
Eu estava com meu ipod escutando músicas da minha banda preferida e me encontrava
totalmente desligada do mundo ao meu redor, poderia até dizer que estava de
olhos fechados, mas não lembro ao certo.
E estava sozinha. Sentada sozinha.
Lembro que estava ansiando por chegar amanhã, que seria domingo, porque então iriamos pra casa
e eu logo sentaria na frente do meu pc e chamaria a turma pra sair,
afinal, precisava de gente como eu pra me recuperar desse fim de semana traumático e
perdido num fim de mundo.
Foi então que do nada, mamãe me ligou dizendo que minha avó havia caído da escada
e o pior tinha acontecido. Juro que não acreditei. Juro.
Porque antes de sair de casa, vovó ainda disse que precisava falar comigo, que tinha uma caixinha
no guarda-roupa dela que ela precisava me dar. E eu, louca pra sair daquela festa de familia idiota
disse que depois ela me dava, sem nem me importar com o que era, pensando que seria mais uma foto
minha de quando criança.
E eu juro que não acreditava no que mamãe havia falado.
Corri de volta pra casa, pelo meio do mato mesmo, porque pela estrada seria uma volta muito maior.
Ao chegar em casa, me deparei com uma cena horrivel e que jamais vou esquecer.
vovó caida no chão, e todos em prantos a sua volta. Papai e meus tios tentavam segurar mamãe, mas ela não se
permitia largar os braços que estavam a volta da mãe dela.
Eu senti um rasgo no meu peito ao ver a dor nos olhos de minha familia, minha familia.
Familia essa que eu nem me importava, eu estava sempre ausente pra eles.
Foi horrivel, minhas priminhas correrram pro meu lado e se abraçaram em minhas pernas, e eu continuava imóvel, estática na porta.
Quando dei por mim, chorava como nunca havia chorado, e depois do estado de transe, o arrependimento me inundou
e eu não parava de chorar.
Peguei Aninha e Julia no colo e a dor delas, tão meninas ainda, tão pequeninas, era igual a minha dor.
E eu entendia o porque. Vovó cuidou delas desde pequenas quando minha tia resolveu estudar, e pra elas vovó era a certeza da
segurança. Que dor enorme. Um buraco havia se formado bem no meio da nossa familia. E eu sentia isso perfeitamente.
Alguns dias se passaram, o tumulto do velório, enterro e dividir os pertences de vovó cessaram.
E a gente não foi pra casa e eu já nem queria ir. Não me fazia falta estar em casa, porque eu sabia que mamãe ia tirar a máscara
de mulher forte, que teve duranto o tumulto, e choraria dias a fio.
Meus amigos me ligavam e eu só dizia que não queria comentar agora e que quando fosse pra casa e voltasse pra escola,
contaria tudo.
Teve um dia, que minha tia que morava no exterior, teve que ir embora porque tinha que voltar o trabalho e meu tio também.
Então todos foram levá-los até POA, pra eles irem no aeroporto e pegar o avião pra casa.
Fiquei sozinha, completamente sozinha na casa imensa que respirava minha vó.
E lembrei de nossa conversa, nossa última conversa, em que não pude nem me despedir dela e pedir perdão
por ser esse neta desleixada e largada.
Corri pro quarto dela e ao entrar percebi que não era o quarto dela, não mais.
Parecia que ali, ela estava ausente mesmo e eu não conseguia senti-la como no resto da casa.
Abri o guarda-roupa e lá embaixo, havia um caixinha de madeira com meu nome. Não pensei duas vezes e abri.
Lá havia uma carta, dobrada e bem velhinha já, como se vovó tivesse escrito a anos atras.
Sentei no chão, como era meu costume e abraçei minhas pernas, recompondo meu pedaços. E começei a ler a carta.
Vovó dizia que sentia falta de mim e que todas noites sonhava o dia em que ela estaria com a familia reunida junto a ela.
Meus tios, tias, primos e primas e nós, mamãe, papai e eu.
Ali ela falava que como eu era a neta mais velha, fui a mais mimada, a mais desejada e a que ela mais protegeu.
Que quando nasci, mamãe eram muito jovem e ainda não tinha habilidade com bebês, por isso vovó cuidou de mim.
E me alimentou e escolheu meu nome. me amou como filha.
Na carta dizia também,que ela estava por fora dessas modernidades de hoje em dia, e sabia que como eu jah tinha 17 anos, com certeza
jah tinha namorados. Ela pedia pra mim me cuidar e saber as consequencias das minhas decisões, pois mesmo estando longe dos olhos dela
se eu sofresse, ela sofreria comigo. Ali ela pedia que eu viesse mais vezes visita ela e o vovô e que ligasse não importa o que eu tivesse precisando.
Terminou dizendo o quanto me amava e que o dia que ela partisse, bastaria eu pensar nela e estaria me guiando e me cuidando.
E eu não aguentava mais a dor. E logo começei a pensar no quanto as pessoas são idiotas e o quanto valorizam coisas que nem possuem algum valor.
O quanto eu fui idiota, fugindo sempre de vir pra ca e me ver minha familia, o quanto eu achava que era autosuficiente e que nem precisava de ninguém.
E isso meu foi meu erro, um erro comum na idade que eu tenho. A adolescência é uma fase de transição em que nós achamos que podemos tudo e agora eu percebo que não.
O importante é ser sempre o que temos na essência, no inteiror. O importantes é transimitir os valores que nos foram dados e valorizar
os sentimentos bons que as pessoas tiveram por nós. O importante é acreditar na familia, nos amigos, nos amores e mesmo que aconteçam desentendimentos
saber que sempre há um jeito de recolciliação. O importante é manter perto pessoas que nos amam de verdade e que nos ajudarão, se preciso for.
O importante é o respeito, a esperança, a união e a fé, e sem dúvida, qualquer maneira de amor.
Nesse momento eu sinto, que essa cidadezinha pacata, do interior, pobre, sem gente bonita e da qual eu fugia.. desde que eu nasci sempre me reservou um lugar..
Nesse momento eu sinto, que aqui é meu lugar.




caaroliine poorn ~

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