segunda-feira, 2 de agosto de 2010

trilha sonora



O sol já tinha embaçado meus olhos então resolvi sair da varanda e me deitar ao lado dele. Era um crime vê-lo daquela forma, deitado no sofá dormindo. Tão meu. Tão estranho dizer que era meu. As vezes parecia que nada fazia sentido antes dele, como se minha vida tivesse começado naquela mostra de música em que nos vimos e ele veio sentar do meu lado pra conversar. Uma conversa fiada.. Ele estava sozinho, assistindo com desprezo a apresentação. Parecia mais um menino largado do que um executivo. Vestia um terno cinza, gravata bege e sapatos pretos. Com o cabelo despentado e um olhar vazio para o palco. E eu, sentada nas últimas cadeiras, aos prantos. A música sempre teve uma grande influência sobre mim e eu sempre chorava com as letras, mesmo que falasse de amores perdidos ou de balada e zoação. Até se fosse funk, e eu estivesse concentrada, eu chorava. Patético, mas sempre fui assim.
Nem havia me arrumado muito, pois tinha saído do trabalho e depois que Cátia e Nicole desmarcaram nosso programa, só fui pra não perder o dinheiro mesmo. Cabelo solto, calça jeans e uma blusinha de flanela, nada muito colorido nem chamativo. Bem eu mesmo. E ele me olhou, e por vergonha, desviei o rosto. Quando voltei a olhar, ele não estava no lugar e sim parado na minha frente, questionando como uma moça tão atraente estava sozinha.
Nossa, fiquei muito nervosa com o som daquela voz. Doía, martelava dentro de mim. E ficou ecoando a semana toda na minha cabeça. Até o dia que ele ligou e me convidou pra jantar. Foi lindo, foi mágico. Uma noite inesquecível.
Ele me contou das dores que tinha e eu falei do quanto era difícil me relacionar com as pessoas, pois eu sempre atropelava tudo. Rimos como crianças e a noite passou em segundos, foi rápido e intenso. Não nos beijamos nem nada. Apenas amigos, assim resolvemos. Eu jamais vou esquecer do sentimento que criamos entre nós, porque surgiu do nada e invadiu tudo. O tempo foi passando e nossa amizade sempre mais forte. Eu já nem lembrava da Cátia e da Nicole, pois ele era meu melhor amigo. E se tornou parte evidente de mim. Pra sempre. Éramos partes que se completavam, se encaixavam complexamente e só eu sei o quanto eu sempre precisei dele e preciso. E era assim também da parte dele. Ele me contava de seus rolinhos e pedia opinião em como mandar a menina pastar. Era engraçado. Se aparecia alguém na minha vida, o ciúme era evidente. E ele sempre dizia que jamais ia deixar alguém me ferir. A amizade era rotina e evidência sempre no nosso dia-a-dia.
Até o dia em que eu acordei e precisava dele de outra forma.
Precisa dele em mim e não comigo. E isso foi um choque de milhares de volts, porque descobri que estava apaixonada por ele. Perdidamente, decididamente apaixonada por meu melhor amigo. Era isso. O tempo todo foi isso. Agora eu tinha descoberto porque eu sempre achava que todas as garotas nunca eram boas o bastante pra ele e eram gordas, e eram feias, eras magrinhas demais e eram burras demais. E sabia também, porque todas as vezes que ele queria sair, eu tinha que saber com quem, aonde e porque não íamos só nós dois?! Porque eu ficava irritada quando a magrinha ou a feia, davam um sorrisinho a mais a ele ou ele ligava no outro dia, depois da noite de sexo com elas? Agora eu tinha a resposta. E isso tudo me perturbava.
Por tempos e tempos, tentei ignorar o sentimento e ele também. As vezes não atendia suas ligações ou mandava o porteiro dizer que eu não estava no prédio. Mas para minha surpresa, 4 meses depois da descoberta, recebi um cartão que dizia: “preciso muito falar contigo, a ausência ta me matando.. tenho algo pra dizer também, mas isso não sei se vou conseguir.. me liga”.
E eu não resisti, liguei e ele foi me buscar no trabalho. Fomos pro meu apartamento e jantamos. Sem muitas palavras nem olhares significativos.
Até que o silencio ficou insuportável e acho que ele se tocou.

“ Preciso conversar contigo...” disse ele.

“ p-p-pode falar ?!” arfei.
E ficamos nos olhando. Ninguém disse nada, mas aconteceu.
Foi lindo, foi mágico. Uma noite inesquecível.
Nos entregamos com paixão e entre beijos e carinhos, confessamos nos amar. E eu sorri ao ouvir ele dizer que me amava desde que nos olhamos pela primeira vez. Porque no fundo, comigo também aconteceu assim, porém tinha medo de ser rejaitada por ele.
Era estranho pensar e é até hoje, mas meu melhor amigo é o amor da minha vida, e a nossa amizade foi a trilha sonora do nosso amor. mas enfim, é um crime vê-lo dessa forma, deitado no sofá dormindo. Tão meu. Tão estranho dizer que é meu e saber que é meu, e mais estranho ainda, saber que eu espero que seja sempre assim !


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